quarta-feira, 29 de junho de 2011

Seminário de Planejamento Urbano


Assistindo ao seminário de planejamento urbano, (terça 28/06) no auditório da AMUNESC registro as seguintes conclusões (pessoais).

Primeiramente, me contive para ficar calado. Muitos presidentes, diretores, coordenadores, diretores, professores, mestrados, doutorados, um monte de CREAS e ........ eu.

Não que tenha ficado intimidado, mas como os envolvidos atuam em áreas diferentes da minha e como ainda sou novo na cidade, não conhecia e nunca ouvira falar de ninguém que ali estava, o que não comprometeu em nada a  minha atenção e respeito aos palestrantes. Assim sendo, de antemão peço perdão, se minha ignorância não faz reverência aos históricos dos palestrantes.

Ciente de minhas limitações, fui ao evento com o objetivo de ouvir e aprender.

Lamentei saber que a administração municipal desperdiçou um trabalho da coleta de informações feita com os mais diversos segmentos no decorrer de três anos para balizar a proposta da lei de ordenamento.

Cabe aqui uma observação pessoal: - a oportunidade de aprendizado no trabalho que foi feito transcende qualquer currículo universitário e deveria – no mínimo – ser divulgado, disponibilizado, consultado, reconhecido e homenageado. Assumo a “inveja branca” de não ter vivido uma experiência semelhante.

Falaram do crescimento e da forma como o urbanismo foi abordado nos anos 80 ,90 , 2000 e atuais.
Falaram das previsões de crescimento populacional – 750.000 habitantes para o ano de 2050

Falaram de diretrizes que deveriam ser usadas como balizamento para futuras decisões.
Falaram de regras e normas rígidas de ocupação e uso.
Por outro lado, falaram de conceitos – idéias – contrapondo o uso de normas rígidas para ocupação e uso,  o que seria muito mais sensato para fluir junto com a evolução coletiva da população e suas novas descobertas, aprendizados expectativas e necessidades.

Falaram da terminologia técnica usada nos debates que supostamente afastaria o cidadão.
De fato, mesmo atrelado às nomeações, geralmente políticas e pouco técnicas, o poder público usa argumentação profissional.
O empresariado, por sua vez, possui em seus quadros os técnicos qualificados, pagos e com tempo disponível entre seus afazeres diários. E, se não tem internamente, contrata técnicos autônomos para defender seus interesses nos debates, com tempo e capacidade profissional.
Aí, chega o cidadão.
Aquele que paga os impostos e os custos da cidade. Aquele que aluga sua mão de obra e tempo para o empresariado para que este gere riqueza. E aquele que, do lado de fora da porta da empresa, consome seus produtos e mercadorias, remunerando as empresas e recolhendo os tributos.

Não por acaso, também é aquele que é mais atingido pelo planejamento urbano.
É o que usa o ônibus;
É o que usa o hospital;
É o que usa a escola;
É o que usa as ruas, ciclovias calçadas, parques, ....
E é o menos ouvido.
O que tem menor poder de decisão.
O que tem a menor disponibilidade de tempo.
O que tem a menor capacidade de agrupamento.
O que tem o menor conhecimento e argumentação técnica.

Mas é esse cabra, que vive a cidade.
Putz!
Eu não preciso saber cozinhar para saber que uma comida está boa.
Eu não preciso conhecer temperos e temperaturas para saber que uma comida está ruim

Falaram das participações nos debates – empresários, poder púbico e cidadão.

Os empresários, sempre representados em todos os debates. Muita técnica, muito profissional, muito fluência e muitos interesses defendidos.

O poder público, também sempre presente, muito próximo dos intere$$es dos empresários .... até porque os personagens se mesclam e se cruzam mais corriqueiramente.

E a representação do cidadão: despreparada, inconstante, inexpressiva ou omissa.
O cidadão tem que se agrupar e associar para que possa se manifestar como representante de um “alguém”. Já é difícil pro leigo disponibilizar um horário para comparecer. Tem ainda que estar agrupadamente constituído e habilitado com um mínimo de conhecimento técnico para poder se manifestar.

PATAKAPARAU!

Mas os vereadores e prefeito não foram eleitos para defender os interesses da população?
Então, agora eu, cidadão, tenho que me agrupar, constituir uma associação, me inteirar tecnicamente, dispor de tempo e comparecer aos debates para me defender do atropelamento dos interesses dos empresários e dos políticos?

!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!


Lembram daquele ratinho do Agildo Ribeiro?  TO PHODIGGIO (sic)

Constato, assim o abismo que existe entre a administração pública e a parcela de cidadãos que se predispõe a doar parte de seu tempo à busca de qualidade de vida.

Em nenhum momento ouvi o termo “qualidade de vida”

Não sei se haveria interesse, mas acho que faltou a presença do homem da caneta.

Concluí que a complexidade dos interesses da cidade inviabiliza um plano diretor que diga o que deve se feito. Não conheço caso em que isso tenha dado certo.

Creio que seria muito mais eficiente usar a uma técnica do jogo SUDOKU, e tentar acertar descobrindo e eliminando o “que não é” e dando atenção ao que sobra ... ou seja:

Ao invés de criar regras, normas, diretrizes e balizamentos sobre o que deve e pode ser feito, seria melhor estudar, ouvir e aprender o que a população quer (como já foi feito e não aproveitado). Talvez o melhor fosse formular a pergunta de forma a criar uma sinergia entre a vontade, a expectativa e a técnica.


O que vc entende por qualidade de vida?
Vc esta satisfeito com o transito na cidade?
E o numero de habitantes? É razoável?
Pode aumentar? Deveria diminuir?
Se aumentar o numero de habitantes sua qualidade de vida melhora ou piora?
Se diminuir o número de habitantes sua qualidade de vida melhora ou piora?
Vc acha que o número de veículos vai aumentar ou diminuir?
Vc acha que o número de ruas vai aumentar, diminuir ou permanecer igual?
Vc acha que o número de habitantes na sua rua pode aumentar?
E se tivesse um prédio de 12 andares ao lado de sua casa?
Vc acha natural construir na beira dos mangues?

Ninguém menciona que nossa cidade não comporta um fluxo de 510.000 habitantes.
Pra onde vão crescer as ruas? Quantas casas deverão ser desapropriadas para alargar ruas? Como co-habitarão seus moradores?
Que tipo de “em torno” vc almeja? Esta preparado para pagar por isso?
Claro  .... nada  é de graça.
Veículos na rua tal só de moradores.
Ruas do centro, só a pé ou de ônibus.
Não pode mais fazer ligação de água além de XX unidades familiares.
Não pode mais fazer ligação de energia além de XX unidades familiares.
Um empreendimento imobiliário deve ser avaliado não só dentro do terreno. O Impacto de vizinhança tem que ser difundido. O meu direito termina onde começa o seu.

Me refiro às ruas por que é nelas que circulamos e interagimos. Mesmo que, ficticiamente, eliminássemos o fluxo de automóveis pelo centro e adjacências, precisaríamos de um contingente de ônibus e veículos de transporte para abastecer o comercio urbano.

E quando formos 750.000?
Comercio indústria, serviços, turismo, escolas, hospitais, policia, bombeiros, ...
Mais a população sazonal e das cidades periféricas

Talvez seja menos difícil começar definindo o que não queremos
Urbanistas, arquitetos, sociólogos, administradores, políticos ... professores .... muitos, professores prestigiados, regiamente remunerados e reverenciados pela sociedade.

Permitam aqui o destaque: nunca chegaremos a lugar algum e nem usufruiremos a sonhada qualidade de vida enquanto o professor não for a atividade mais prestigiada da sociedade.

Concluindo, lamentei constatar que os grupos estão em planetas diferentes, mas que se devoram na ânsia da sobrevivência. Um grupo na busca da riqueza, outro na manutenção do poder e o ultimo, mais frágil, mas não menos importante, buscando viver.







2 comentários:

  1. A proposta da mesa muito quadrada era debater sobre: PLANOS DIRETORES PARTICIPATIVOS.
    Como responder a tal proposta se todos os planos são tudo menos o DEMOCRATICAMENTE PARICIPATIVOS.
    A cidade é teatro das decisões em que o prato servido frio
    impede que o real ator (o morador da cidade) possa sentir o gosto de decidir.
    O direito a cidade sustentável vira poesia de Eduardo Galeano
    "Utopia, esta no horizonte, quanto mais ando em direção a ela, mais ela se afasta de mim..."

    K da kgb (arquiteto urbanista)

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  2. Analise interessante, de fato o cidadão de a pé precisa se organizar, seja nas associações de moradores, ou das entidades que lhe sejam mais próximas.

    A forma promiscua com que o poder político e o poder econômico se relacionam e destroem a qualidade de vida em pro do lucro fácil é vergonhosa e quedo bem evidenciada no evento.

    É importante participar e poder identificar quem esta de cada lado, quem defende a cidade e o bem comum e que só cuida do seu bolso.

    O triste, como você muito bem constatou é que quem foi eleito para defender a sociedade não o esta fazendo.

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